Em uma nova etapa do processo que trata sobre o assassinato dos agricultores Flávia Guilarducci de Souza, de 50 anos, e Jânio Bonfim de Souza, de 57 anos, o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) solicitou o desmembramento e envio ao Procurador-Geral da República. O pedido foi feito após um novo depoimento citar o governador de Roraima, Antonio Denarium, e o comandante geral da Polícia Militar, Miramilton Goiano.
Durante o interrogatório prestado à polícia, Helton John da Silva, capitão da Polícia Militar e um dos investigados, mencionou supostos acontecimentos posteriores ao assassinato, envolvendo autoridades com prerrogativa de foro. Segundo Helton, após o crime, ele contatou o Comandante-que o teria instruído a trocar de celular e aguardar as investigações.
Helton também afirmou que o irmão de outro investigado, Caio Porto, foi ao Palácio Senador Hélio Campos conversar com o governador Antonio Denarium. No depoimento, Helton relatou que Denarium teria solicitado à Delegada Geral da Polícia Civil que o caso fosse resolvido diretamente com o irmão de Caio.
O MPRR pediu ao magistrado da 2ª Vara do Tribunal do Júri, para que o processo fosse remetido ao Tribunal de Justiça de Roraima (2ª Instância) e Superior Tribunal de Justiça (3ª Instância), já que as autoridades citadas em depoimento têm prerrogativa de Foro. Essa movimentação foi necessária, a fim de dar continuidade no processo, centralizando a atuação apenas nos investigados que não têm prerrogativa de foro. Segundo o MPRR, isso se fez necessário porque tanto o Promotor de Justiça quanto o juiz de Primeiro Grau, não podem analisar possível envolvimento de autoridades no caso.
Para evitar prejuízo à investigação, o MPRR encaminhou o caso ao Tribunal do Júri em relação aos outros investigados: Genivaldo Lopes Viana, Luiz Lucas Raposo da Silva e Johnny de Almeida Rodrigues, que estão em liberdade com medidas cautelares, e Caio de Medeiros Porto e Deyvis Jesus Mundarain, que estão foragidos.
Quanto aos investigados Genivaldo Lopes Viana, Luiz Lucas Raposo da Silva e Johnny de Almeida Rodrigues, que estão em liberdade com medidas cautelares, e Caio de Medeiros Porto e Deyvis Jesus Mundarain, o processo permanece sendo investigado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e tramita na vara do Tribunal do Júri.
Relembre o Caso
Flávia Guilarducci de Souza e Jânio Bonfim de Souza foram mortos no dia 23 de maio, na Vicinal do Surrão, no município do Cantá. Jânio morreu no dia do crime e Flávia faleceu no dia 28, após seis dias na UTI. Os corpos foram levados para Goiás, terra natal das vítimas. A mulher foi atingida na cabeça e o homem na boca e abdômen.
As vítimas tiveram a casa invadida por homens que atiraram contra elas na manhã do dia 23. Socorridos por uma testemunha, foram levados ao Hospital Geral de Roraima. A testemunha relatou também ter sido ameaçada pelos suspeitos.
Antecedente
Um dia antes do assassinato, o casal registrou um boletim de ocorrência na delegacia da Polícia Civil de Cantá, relatando ameaças do vizinho, o empresário Caio de Medeiros Porto, de 32 anos.
No mesmo dia, o vizinho do casal esteve na propriedade para verificar um local para plantar feijão, conforme combinado com Jânio. Segundo depoimento à Polícia Civil, Caio chegou ao local acompanhado dos outros suspeitos, apontando uma pistola .380 e perguntando sobre o proprietário das terras. A testemunha, para evitar confusão, disse que não conhecia o proprietário.
Na noite do mesmo dia, a testemunha retornou à propriedade e Jânio relatou ter registrado um boletim de ocorrência devido às ameaças de Caio e dos outros suspeitos, mesmo tendo documentação das terras. No dia seguinte, Jânio e Flávia foram baleados.
Um áudio dos suspeitos com o casal foi gravado pelas vítimas. Jânio relatou à testemunha, antes de morrer, que quatro homens chegaram em uma caminhonete Chevrolet S10 branca em sua propriedade. A mulher, baleada na cabeça, faleceu uma semana depois.