Originalmente, o plano envolveria mais uma missão de pouso, levando um foguete capaz de decolar da superfície de Marte (a ser fornecido pelos americanos) e um rover para colher as amostras do Perseverance (a ser fabricado pelos europeus). Em março, ficou claro que seria impossível colocar ambos no mesmo módulo de pouso, o que obrigou a bifurcar essa etapa em duas. Agora, com o descarte do rover europeu, o projeto volta a contar com apenas um módulo de pouso, que vai levar à superfície o foguete para a ascensão de Marte e dois mini-helicópteros, ligeiramente maiores que o Ingenuity –veículo experimental que opera em Marte desde o ano passado.
Quanto ao Perseverance, seu trabalho dobrará na nova arquitetura. Além de colher as amostras, como já vem fazendo, será dele a tarefa de levá-las até o veículo de ascensão. Os helicópteros, equipados com pequenos braços robóticos para manusear os tubos, servirão apenas como estratégia de reserva, caso o rover seja impedido de concluir a missão ele mesmo.
“Chave para nossa nova arquitetura é a determinação recente da confiabilidade e da expectativa de vida do Perseverance baseada em seu desempenho até o momento”, explicou Jeff Gramling, diretor do programa de retorno de amostras de Marte da Nasa. “Temos confiança de que o rover será capaz de entregar as amostras ao módulo de resgate em 2030, quando a necessidade surgir.”
O resto segue como o plano original: uma vez que a cápsula com as amostras seja colocada em órbita de Marte, ela será capturada por um orbitador europeu capaz de trazê-la de volta à Terra. A chegada segue sendo esperada para 2033.
Originalmente orçado em algo como US$ 7 bilhões, o projeto não teve seu preço recalculado em março, quando o plano passou a usar dois novos módulos de pouso. Voltando a ser um só, é possível que isso traga o custo de volta ao patamar inicial –mas mesmo isso é incerto, já que uma avaliação independente sugeriu que o custo original estava subestimado em US$ 1 bilhão. Resumo da ópera: barato não será.
Enquanto isso, os chineses seguem trabalhando para chegar lá primeiro, com uma arquitetura ainda mais simples, capaz de trazer rochas de Marte em 2031.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.