O hábito de se distrair vendo publicações em redes sociais é comum para pessoas de todas as idades. De acordo com uma pesquisa divulgada pela agência de marketing Sortlis, os brasileiros passam em média 3 horas e 42 minutos por dia usando as ferramentas.
O problema é que essas plataformas, que em princípio têm o objetivo de divertir e tornrs as pessoas mais próximas umas das outras, podem gerar sintomas de depressão, ansiedade e baixa autoestima.
Em setembro do ano passado, uma reportagem do jornal Wall Street Journal revelou que o Facebook está ciente de que o Instagram, rede da qual é dono, é potencialmente danoso para a saúde mental de meninas adolescentes.
“As redes sociais sofreram muitas mudanças nos últimos anos. Inicialmente, elas serviam apenas para a comunicação entre as pessoas, mas descobriram nelas uma grande fonte de renda. Assim, a ideia começou a ser fazer com que se passe o máximo de tempo possível diante da tela para o consumo de propaganda”, explica o psicólogo Luiz Mafle, professor de psicologia e doutor em psicologia pela PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) e pela Universidade de Genebra.
“Para isso, desenvolveram a estratégia dos algoritmos, likes e engajamentos, que ativam o mecanismo de recompensa em nosso cérebro. Por conta do impulso constante para checar se recebemos uma mensagem, nos sentimos desconfortáveis e impelidos a olhar a todo instante o celular”, ressalta.
O psicólogo aponta alguns gatilhos que podem ser gerados pela relação que as pessoas têm com as redes sociais.
COMPARAR SUA VIDA COM A DOS OUTROS
“Como somos levados a ver a vida dos outros a todo instante, vendendo uma rotina de realização e felicidade constante, comparamos com as nossas vidas e nos sentimos piores por não conseguirmos determinados status sociais ou uma alegria sem fim”, destaca Mafle.
Nesse processo de comparação, somos acometidos por pensamentos de desvalorização e tentamos buscar soluções para solucionar os problemas que elas estão gerando, conta o psicólogo.
Isso aumenta a ansiedade e sintomas depressivos, pois nunca conseguimos alcançar aquela suposta felicidade que só existe no mundo virtual.
VÍCIO EM REDES SOCIAIS
“Difícil dizer de alguém que não sofra os efeitos do vício em redes sociais, devido ao efeito da dopamina, estruturado pelos desenvolvedores dos softwares e dos algoritmos. No documentário da Netflix ‘O Dilema das Redes’, por exemplo, os próprios desenvolvedores se tornaram vítimas das suas criações”, relembra.
Como forma de redução de danos, o psicólogo sugere estipular horários para espiar as novidade do Instagram, Facebook, Twitter e TikTok. “Fique longe do aparelho enquanto não estiver usando e desative as notificações. O hábito e a facilidade de acesso ao celular fazem com que o acionemos com mais frequência. Se o alcance ficar mais difícil, tendemos a pensar mais se iremos buscá-lo ou não.”
Cyberbullying
“Algumas pesquisas mostram que o uso da comunicação via internet reduz a empatia entre as pessoas, pois não se tem o contato direto com a pessoa, não percebendo a reação emocional que a pessoa tem ao receber a mensagem. Normalmente, quando expostos ao sofrimento do outro, a pessoa que realizou a agressão tende a se arrepender por esse mecanismo de empatia”, diz.
Embora o bullying afete mais crianças e adolescentes, os adultos não estão imunes às brincadeiras de mau gosto. A prática pode levar à depressão e até a tentativas de suicídio e automutilação.
BELEZA INALCANÇÁVEL
“É inevitável vermos pessoas mais bonitas ou com corpos mais definidos do que os nossos. E isso não é um problema. Só que, quando vemos demais, ou consumimos em excesso essas imagens, a nossa mente incorpora essa imagem como padrão, como uma verdade a ser imitada. Passamos a nos comparar e nos sentimos inferiores”, afirma.
É importante destacar que as fotografias publicadas nas redes sociais geralmente passam por processos de edição, com programas como Photoshop e aplicação de filtros. Usar essas fotos como parâmetro de comparação pode provocar uma busca pela perfeição estética e desencadear um transtorno dismórfico corporal, também chamado de dismorfofobia, caracterizado pela preocupação excessiva que uma pessoa pode desenvolver em relação à própria aparência.
ANSIEDADE E DEPRESSÃO
“O que se vive na rede social é apenas parte da nossa personalidade que apresentamos ali. Contudo, para os influenciadores, isso é a principal, ou a única, fonte de renda”, sinaliza Mafle.
Como a alegria vende mais do que a tristeza, as pessoas que vivem da imagem que mostram na internet precisam parecer que estão felizes o tempo todo, mesmo quado não estão se sentindo bem.
“Nesses momentos, a pessoas está negando parte da sua própria personalidade, o que é uma agressão contra si mesma. Uma reação da nossa mente, nesta hora, são esses sintomas patológicos de ansiedade e depressão, que só são superados quando podemos viver mais livremente, sentindo todas as emoções, como a alegria, a tristeza, a raiva e o medo”, completa.