Segundo os pesquisadores, a Piezo1 permite a passagem de átomos de cálcio que ativam a produção de óxido nítrico, importante para manter o órgão em um estado de relaxamento. Eles descobriram ainda que, em casos de trabalho de parto prematuro, esse canal aparece desregulado.
“Estudos como esse representam um grande avanço”, diz Denise Leão Suguitani, diretora da Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros – ONG Prematuridade.com. “Ele abre uma gama de possibilidades de trabalhar a prevenção ao parto prematuro não só a partir de aspectos hormonais.”
A cada ano, cerca de 13 milhões de bebês nascem com menos de 37 semanas de gestação. Apenas no Brasil, são mais de 300 mil casos todo ano, de acordo com dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde. Em 2020, último ano com informações disponíveis, 308.702 crianças nasceram antes do previsto, o equivalente a 11,3% dos 2.730.145 nascimentos, número que põe o país na décima posição no ranking mundial de prematuridade.
No artigo, os pesquisadores destacam que a prematuridade é a principal causa de morte em crianças abaixo de 5 anos e lembram que aqueles que sobrevivem muitas vezes permanecem com sequelas. Ainda assim, pouco se sabe sobre o mecanismo que acarreta o trabalho de parto prematuro e não há medicações capazes de impedir as contrações antes da hora.
“A ideia da pesquisa surgiu da natureza peculiar do útero humano, que é diferente em sua regulação dos animais frequentemente empregados para estudar gravidez”, conta Buxton. Intrigados pela ausência de regulação nervosa do útero na gravidez, eles concentraram sua atenção em outras possibilidades de controle do funcionamento do órgão.
Nesse percurso, descobriram que o processo descrito pelos ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina de 1998, que mostraram como o óxido nítrico transmite sinais pelo corpo, não funcionava na musculatura do útero da mesma maneira que nos vasos sanguíneos. Essa fase do estudo contou com a brasileira Veronica Arinze, que atua como enfermeira em Nevada, e serviu de base para a investigação sobre a Piezo1.
“O tempo da ciência costuma ser longo e não podemos ficar de braços cruzados, muita coisa pode ser feita enquanto ocorre o desenvolvimento dos estudos. Trabalhos de educação sexual para adolescentes; investimento em planejamento familiar e em equipes de saúde que trabalham com pré-natal e parto, tanto na atenção básica quanto nos hospitais; e grandes campanhas de sensibilização da população sobre causas e consequências da prematuridade, a importância do pré-natal e a desmistificação do parto natural são exemplos do que pode ser feito para diminuir os casos de partos prematuros no Brasil”, diz Suguitani.
Ela lembra que a Covid-19 aumenta o risco de prematuridade e ressalta que é preciso dar mais atenção ao no tema. “Existe um esforço da ciência mas, dada a gravidade do cenário de prematuridade no país, precisamos fazer, divulgar e investir muito mais.”